09 novembro 2010

O Galvanoplasta


Manipulas o éter vital e brincas com as teias de prata.
Saltitas de mundo em mundo e engoles oxigénio puro às golfadas, exultante.
Despedaças a realidade com as garras fortes e afiadas, e sorves elegantemente por uma palhinha pequenos goles da poeira cósmica de que somos feitos.

Tens consciência que o tempo urge, mas não te preocupas com isso.
Moldas a existência a teu bel-prazer, sem nunca te esqueceres do sangue.
Conheces as ilusões da humanidade, mas perdoas-lhe e não te impacientas.
Anseias por tempestades: vampirizas-lhes a energia, a fúria e a beleza.

Abres as asas aos ventos ciclónicos.
Dormes em pele sobre carvões acesos.
Róis a casca da planta-veneno.
Adentras os desertos mais inóspitos sem uma pinga de água no bolso.

Ris-te da morte e da vida.
E adormeces, ao fim do dia, no cimo da tua montanha.

Sem manta, sem mochila, sem fogueira.