23 junho 2010

A Mosca Temporal


A mosca respirou fundo. Havia muito anos que lia e pensava filosofia. Tinha tido a sorte de ser agraciada como Mosca Temporal por Chronos e, portanto, não estava sujeita à curta vida das suas congéneres. Debruçava-se ultimamente sobre o Dualismo, sistema filosófico Descartiano, que consiste na doutrina que admite, como explicação primeira do mundo e da vida, a existência de dois princípios, de duas substâncias ou duas realidades irredutíveis entre si, inconciliáveis, incapazes de síntese final ou de recíproca subordinação. Pensava de si para consigo, saboreando os conceitos. E da superfície do espelho onde sempre pousava quando queria pensar, transportou-se até Mileto para experienciar a visualização dos discursos do mestre Anaximandro sobre cosmologia e evolucionismo. E deixou-se ficar a flutuar em estado de graça do Conhecimento, com a mente a apreender, assimilar e concluir. De repente ouviu a voz titânica de Chronos. Num nano segundo voltou à superfície fria do seu espelho favorito. Era hora! E Chronos não suportava atrasos.