05 maio 2009

Teoria do Caos (ou não)




Há acontecimentos que mudam a vida.

Bons, maus, não interessa. São dinâmicos.

Têm a capacidade de transformação.

Geram mudança, novidade, transmutação, metamorfose.

Um pouco como a teoria do bater de asas de uma borboleta.

A partir do instante em que acontecem, em que tomam existência, traçam novos caminhos, novas formas de existir, novos actos, novos passos.

As mais das vezes, o ser nem se dá conta. São as tais membranas de filigrana de prata existenciais. Tão frágeis, tão delicadas, tão intrincadas. Mas tão poderosas.

Cortantes como bisturis de cirurgia.

Cortam na existência como uma lâmina quente em manteiga.

Mudam as formas, refazem, reestruturam.

E para tanto, basta estar vivo. Basta existir.

Vê-se um capítulo da vida encerrar e outro a começar assim… sem quase se ter influência.

Age-se e já está.

Inicia-se um processo que dificilmente se pode parar.

É a roda do Dharma. A Epigénese. A constante dinâmica universal.

Diligente, enérgica, inflexível.

E ao ser, basta-lhe deixar-se ir, boiar à tona do rio da vida.

Nadar contra a corrente só servirá para conhecer a sensação de afogamento.

É um exercício que muita gente pratica.

Nadam constantemente em contra-corrente no rio da vida.

Cansam-se, desesperam, perdem a noção de equílibrio.

Por vezes há que confiar nos seres mais elevados que redigem a cada nano-segundo toda a estrutura cósmica.

Nem que seja assumir que estes são as nossas consciências mais altas, os nossos super-egos, deuses, aqueles em que nos tornaremos se para tanto quisermos seriamente evoluir. Transcendência do estado humano.

Difícil. Sim. Mas possível.

Como diz o Outro "Todos somos Deuses em potência!"

O triste da questão é que ninguém quer acordar.

Ninguém se quer transcender.

Toda a gente prefere estar preso na roda, como um hamster.

E assim passam as vidas a correr de um lado para o outro, convencidos que estão a fazer algo pelo simples facto de correr.

Mas correm como um ratinho numa gaiola, na sua roda eterna, sem sair do lugar.

Há que roer as barras de metal da prisão e descobrir o Mundo.

Crescer, evoluir, escalar. Custa. Dói. Martiriza.

O sofá é bem mais confortável. Seguro. Fôfo. Estático.

Imagino o desespero de um Buda, de um Lúcifer, de um Zoroastro, de um Cristo.

Que frustração.

Descobrir um caminho de ascese directa, querer partilhá-lo com toda a humanidade com entusiasmo "É por aqui!!" e ninguém querer saber, toda a gente olhar para o lado e acabar por se afastar.

Por vezes, quando sou mais compreensiva até acredito que tenha de ser assim.

Acredito que tenha de levar o seu tempo e que a humanidade não está pronta para dar o salto quântico na escala da evolução.

Mas quantos mais eóns terão de passar?

Quanto tempo mais precisará?

Assombra-me a capacidade de conformismo, de preguiça e de auto-comiseração que o género humano consegue atingir.

Desde o sem-abrigo ao alto executivo. Um dorme na rua, outro conduz um BM série 7.

Ambos dormentes, ambos perdidos, ambos falhados como seres da Criação.

Não vivem. Não sobrevivem. Apenas sub-vivem.

De quanto mais tempo, desespero, comutação precisarão para baterem no fundo do poço com os pés com toda a força e sentirem a desesperada e voraz necessidade de respirar, de superfície de além-poço??

Quantos mais quilos de lodo terão de engolir?

Quanto mais abandono terão de sacrificar?

A ascese é limpa, é uma escada poderosa, que nos puxa para cima a cada passo com mais força.

É viciante, bela, segura. Árdua talvez.

Mas recompensadora.

É a única cura verdadeira para as dores da existência.

É uma escada cujo fim é o reencontro celestial com quem realmente somos, com o ser a quem foi soprado o Logos, a centelha de fogo da vida no início dos tempos.

Aí, abandonam-se as vestes de barro e assumem-se as de fogo e éter.

Passa a fazer-se parte de uma anarquia divina com que se saboreia a amplitude máxima de uma consciência absoluta, íntegra, perfeita, pura.

Para começar basta apenas abrir os olhos (para muitos pela primeira vez) e começar a caminhar.

Sair dos trilhos comutantes.

Pensar por si próprio e não aceitar nada que não provenha da auto-conclusão.

Esta é a primeira pedra.